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Você passa pelo tempo ou o tempo passa por você?

Ana Paula Neves em 21/10/2017

Foto ampulheta

No último final de semana, assisti ao filme O Curioso Caso de Benjamim Button, que acabou me provocando uma série de reflexões e o desejo de compartilhar a experiência com vocês aqui no blog. O filme é intenso, provocador e cheio de sutilezas sobre a passagem do tempo na vida do homem. Ou seria sobre a passagem do homem pela vida, em determinado tempo?

Antes de seguir lendo o texto, olhe para a imagem do início. Não é uma beleza? Esta imagem é um encanto! Memorize sua percepção sobre ela. Ao final da leitura, olhe para ela mais uma vez.

O filme “O Curioso Caso de Benjamim Button”1 começa mencionando a história do Sr. Gateau, um relojoeiro cego que, ao perder seu único filho na guerra, resolve fazer um relógio que “inverte o sentido do tempo” para tentar voltar ao passado e evitar a trágica morte de seu filho.

As primeiras badaladas do relógio feito pelo Sr. Gateau, marcam o nascimento de Benjamim Button: um bebê que nasce com o corpo semelhante ao de um senhor fisicamente debilitado e que rejuvenesce a cada dia, desafiando o sentido do tempo e seguindo no que poderíamos chamar de contramão da vida.

A vida de Benjamim e sua interação com as demais personagens nos convida a pensar nossa relação com o tempo de diferentes maneiras.

Vida e Morte: o tempo como início, meio e fim

Logo após seu nascimento, o bebê Button é abandonado por seu pai num lar para idosos. Neste ambiente, a morte é um elemento comum. É tratada de forma tão corriqueira e banal que chega a incomodar o expectador.

Para Benjamim, no entanto, a morte de seus amigos idosos representa a aceitação da finitude da vida. No asilo, ele aprende que a morte chega para todos e que é parte natural da vida. Ele aprende, também, que todo mundo carrega uma história de vida, seja ela curta ou longa.

Quando decide sair do asilo e se aventurar por aí, Benjamim deixa de ser um mero observador e começa e escrever sua própria história. Afinal, ele aprendeu que a vida tem início, meio e fim.

Experiência e Inocência: o tempo como professor

Apesar de nascer em um corpo que carrega as marcas do tempo, Benjamim Button, nasce inocente como uma criança. Tem um ar sabido e experiente, mas precisa do tempo. Só o tempo é capaz de ensinar como amadurecer. A transformação de inocência em experiência é lindamente apresentada na sua relação com a personagem Daisy Fuller ainda criança.

Juventude e Velhice: o tempo como obstáculo

Na medida que o tempo passa para as personagens Benjamim e Daisy, o antagonismo entre juventude e velhice começa a ganhar força na narrativa.

Não posso estragar o filme para quem ainda não assistiu. Então, vou me limitar a dizer que adorei a sutileza da mensagem por trás da decisão de Benjamim, quando Daisy está com pouco mais de 40 anos. Envelhecer não é um fardo! Pode ser um presente. Tudo depende de como você escreve sua história.

Cuidar e Ser Cuidado: o tempo como continuidade

O que mais gosto no filme é da forma como ele valoriza o “cuidar de alguém”. Isso aparece, das mais variadas formas, nas relações de Benjamim com diversos personagens: com Queenie, sua mãe adotiva; com Daisy, sua amiga (dentre muitas coisas); com Thomas, seu pai, e com o Capitão Mike.

Na minha história de vida, quero cuidar e ser cuidada, com empatia e com merecimento. Tem uma citação, atribuída a Mark Twain, que diz: “Os dias mais importantes da sua vida são o dia que você nasceu e o dia em que descobre o porquê. ”

No filme, me parece que o porquê de cada personagem está relacionado ao doar um pouco de si para cuidar de alguém, criando um círculo de cuidados: um “círculo da vida”.

Quando comecei a escrever este texto, eu queria escrever algo sobre a importância de cuidar de um ente querido, de cuidar dos idosos que cuidaram de alguém e começaram a escrever a história deste alguém, quando ele ainda não tinha autonomia para fazê-lo.

Assistir ao filme foi um destes acasos maravilhosos que acontecem com a gente. Me ajudou a materializar um sentimento que anda muito forte na minha vida. Quero ajudar a escrever muitas histórias. Especialmente histórias das pessoas que amo, quando elas não conseguirem mais ter autonomia para fazê-lo.

Porque a vida tem começo, meio e fim. Porque eu descobri que sou feliz em cuidar de quem cuidou de mim.

Antes de terminar, olhe para a imagem no topo do texto e reflita:

Você passa pelo tempo ou o tempo passa por você?

 

1 Filme lançado em 2008, baseado em um conto homônimo escrito em 1921 pelo escritor F. Scott Fitzgerald.